Quente noite fria de inverno
Quente noite fria de inverno
ou então grandimensa melancolia.
Bucólicas plantas de florintensas
no terraço nuas, eu vestida.
Pequenos curtos textos, contos curvos,
parcas contas do (f) orçamento,
coisas.
Constatação de que não fiz nada
no espaço breve, semanticovento.
Melancólicas folhas no terraço palmas,
ares diversos pela alma adentro.
Vão fatos fardos de tantas ordens,
quiçá desordens, no mais, silêncio.
Quando lá fora o dia clama
e se faz nítido e necessário e
clamagita
e é comedido, incerto, vário,
sou entretanto.
Mas, porém, contudo, todavia:
íntimo verbo, máximencanto,
o olho prefixo é sempre além.
E se hoje me faço desacalanto,
é que renasço fenixamém
e rio e abraço.
2006
O homem da chave
(Que tinha deixado a
chave na porta e agora não podia entrar, a não ser que lhe abrissem a porta.)
2006
Consolação
Poesia das esquinas.
Curtextenso poema.
A menina dos olhos nina a menina em
mim.
Pouca trégua nas minhas retinas,
desmágoa.
Vastos campos de amenaurora.
Vê se não
chora, chapéu de fita.
O párarraio agita o vento.
Não sou alegre e nem ensaio
tristeza
eterna em meu pensamento.
2006
Consideração
me acho
de repente
absolutamente
reppetittiva
Janeiro de 2006
Lagoa
Beira do lago, beira da vida,
largorizonte de mágoas ligeiras
medidas na água de orvalho.
Raio de sol pranteando a vidraça.
Outubro de 2006
Do perdão
Noite anterior à lua, véspera quase lua:
primaverassuspenduradas nos galhos.
Vai-se a hora e eu quieta,
suspirandoenluada no orvalho.
Afeto despedaçado no palavrário
que não podia ter sido, e no entanto.
Saltimbancos das trilhas e chãos de
cascalho.
Passemos ainda cantando.
Dezembro de 2006
Tentativa persistente e inverterada de
compreender Descartes, seus ditos e não ditos
RES
EXTENSA
REX
ISTÊNCIA
Fevereiro de 2007
Um
(primeiro)
Tomar um anti-inflamatório
pra ver se passa
essa crise de escrever palavra.
Janeiro de 2007
Um
(segundo-a-Contra-Reforma-Ortográfica)
Tomar um anti- - - -inflamatório
prá ver se passa-essa
crise-discreverpalavra.
Março de 2012
Estética
- O que é poesia?
Você me pergunta,
sua intenção repleta de interrogações
difusas.
Eu lhe respondo com meu silêncio que
inunda –
O que é poesia?
2009
Sombras
Tem certeza
de que
realmente
deseja excluir este arquivo?
Deseja enviar
este conteúdo
para a lixeira?
2009
Gramática arretada em prosa e verso
- foi simbora mais ele.
- falei com ele que eu ia.
- ele falou com ela que ficava.
- como foi que tu deixasse?
- eu num já falei que não?
- ele já foi tomado banho.
- ê, criatura...
- Ô, Daiane! Ô Weliton! Ô Deivison!
- muleque atentado!
- aquilo sim é uma pura arte.
- vô busca o rezistro e volto já.
- come um pão de mortandela.
- leva o tique refeição.
...e outras delícias do Brasil
afora...
2010
Brumas
Ando triste feito palavra aprisionada,
sem contorno, sem linha, sem peso.
Dera fosse a brisa da lua.
2010
Previsão do tempo 1
. CHu
.
.
.ViM
. .pON
.
.
..To
.
. .
.Zi.zO
.
. .
.La
.
.
. .
.dOs
2010
Previsão do tempo 2
I
IIIII
GA
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F
I II
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N
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I
A
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F
I
F I
I
IIIII
2010
Exercício número 1
Quando me texto,
às vezes
acho-me patética.
Velhos escudos,
insípidos dissabores.
2011
Exercício número 2
análise sintática
complexa dialética
proposta analítica
relógio analógico
teatro do absurdo
2011
Exercício número 3
análise sintática
complexo dialética
semântica alfabética
romanticoanalítica
relógio analógico
vontade paraplégica.
Ele seguia jovial sob a garoa
colorida, guarda-chuva vermelho de bolinhas, camisa listrada, bermuda xadrez.
2011
A festa
Flores faixas coloridas
numa rua singela oculta no barulho
dos papeis de seda.
Poema de estrada,
onde tudo se acaba e refloresce.
Julho de 2011
Ideias
Sobre o que escreveria?
Sobre um conjunto de flores tingindo o
detrás-portão?
O tapete azul de operários
enformigando tijolos?
Ou aquelas mulheres riscando com o
fumo uma estranha partitura no espaço?
Era nada, nada... não apreendia ideia
nenhuma, e o papel branco branco.
As letras se movimentavam de um lado
para o outro, balanços monótonos e enovelados.
A tarde virava noite. O sol, estrelas.
O que seria agora, com estas novas
configurações mundiais
– se perguntava?
E, no fim de contas, o que
adiantava... se... enfim.
As folhas da samambaia espiavam verdes
da janela aberta podia-se ouvir um raro pássaro.
Onde estariam aqueles pardais de uns
poucos anos?
E o papel, branco branco .
Que coisa, que coisa!!!
Agosto de 2011
07 de junho
a vida corria leve as manhãs
embandeiravam grandes desejos
pensou em deixar o país
num segundo e passou
vida breve um sopro sonho se viu por
baixo da neblina londres talvez argentina
enquanto engoliu a primeira garfada
dentes no restaurante parou um carro de boinas
cinzas
desceu o almoço engasgado sem cor
olhou o céu
limpo azul total de sol onde estavam
os amigos?
claro
como espelho
se viu
frança angola nordeste tailândia acre
sudão
na calçada
uma flor linda delicada lilás e um
curumim
pleno coração via lacteando
grande árvore de raiz
profunda
Junho de 2014
Exercício
literário em tempos noturnos
(sobre
paredes cinzas entre as flores)
Tudo que arde, cega.
Tudo que nega, noite.
Tudo que novo, claro.
Tudo que braço, forte.
Tudo que mata, cinza.
O que segura, enlaça.
Porém.
O que sufoca, inspira.
O que prender, liberta.
O que viver, caminha.
Tudo o que jovem, lira.
Tudo que pensa, alerta.
junho de 2014
Mover
entre sujeito e objeto
vão múltiplos ditos
vão casos claros
vãos carros de boi
passando
em frente em vão
cinzentos e verdes em vão.
Eu não.
Um porto entre o alheio
e o meu coração divaga.
Junho de 2014
NOITE
Um minuto de
lua para os homens com e sem pão. Pequeno milagre urbano – na lua, os mais
diferentes sonhos de amor e liberdade.
Maio
de 2014
SEM TITULO
Basta um
raio de sol para que se descortine o universo.
Infinitas
galáxias de tinta,
Sem mais.
Maio
de 2014
Exercício
literário 1
popblack
livro jogo buster estudante salescura bandido bom é bandido morto festa pop
chic livro chile jogo estudante caixa preta classe a classe b zelar pela segurança
classe c classe pró e classe anti festa muda muda a festa neruda comissão
nacional de segurança amor o que faz você feliz seguindo os jornais catarse
turba cega catarse salescura off-line
Junho
de 2014
Prédio
Ele - olhava
o alto para sentir o íntimo das janelas do novo prédio. O que via eram
potências construídas umas por cima das outras, entijoladas e mais ainda,
entijoladas.
Ela - olhava
o mesmo íntimo. Viu um velho branco a contar os carros. E observou como nele o
tempo passava com nobreza.
Ele olhava o
alto para aproximar dos pensamentos cada viga que sustentava o novo prédio. O
que via eram vigas encimadas de vigas.
Ela olhava o
mesmo alto. Viu um vaso de flores miúdas e um jardim lilás. Arriscou: se
voassem as flores despetalassem por toda a cidade, haveria mais cor e alguém
seria feliz por isso.
Ele olhava o
alto para se emaranhar no primor gelado de cada um dos pontos de cimento, como
era lindo o novo prédio. Cimento sobre cimento, branco de gelo puro.
Ela olhava o
mesmo ponto. Viu que a cobertura terminava no azul e sobre a parede
laranja subia um pequeno inseto teimoso. E viu que no jardim do quintal ao lado
estava aberta uma flor vermelha. Perguntou: será que a noite cai?
Julho de 2014
Palavras
Vi hoje
olhos de chumbo.
Vi por
detrás da roupa cinza bem passada uma interrogação insatisfeita.
Penetrei sem
rodeios e direta a profundeza dos olhos duros e vi incerteza.
Era manhã.
Busquei
reter todo céu que pudesse para levar comigo o azul nos pulmões e na alma.
Vi hoje cedo
olhos de chumbo.
Que até a
tarde cresceram e se multiplicaram.
Verdes,
cinzas, cinzas e verdes.
Fileiras
escuras como um dominó.
Quis
perguntar se eles também sentiam tremer o chão do país.
Se quando
respiravam na rua, sentiam falta de ar.
Quis
perguntar se eles tinham filhos.
Ou sonhavam
ter.
Ou sonhavam.
Se dormiam
bem à noite.
Se amavam.
Se também
perderam amigos.
O mesmo
medo.
O mesmo
desconhecido.
O mesmo não
saber.
Mas duro.
Caminhamos
na direção contrária.
Frente a
frente.
A parede
cinza se aproximando, cruzando meu ar, atravessando minha alma, gelando o
estômago, e finalmente seguindo reto.
Reto.
Reto.
Reto.
Reto.
Sempre em
frente
e em linha
reta.
O dia estava
muito claro.
Era preciso
cantar.
E amar.
Logo.
Junho de 2014
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